O que abaixo transcrevo é um comentário do Sr. Calos V. a uma notícia no site www.portugaldiario.iol.pt, não quis deixar de colocar a sua opinião aqui.A realidade da emigração dos anos sessenta em Portugal.A meu ver, que conheci essa realidade pois nasci numa aldeia em que o fenómeno também se verificou e julgo poder tornar extensível de modo a formar uma petite téorie, a mon insu, quem emigrou de Portugal para a Paris da década de sessenta, por cá trabalhava por conta de outrém, nas mais diversas atividades: pedreiros ( que não eram livres, eram mesmo só pedreiros); carpinteiros; mecânicos; electricistas; empregados fabris. Essencialmente, actividades dedicadas à construção civil ou outras indiferenciadas, incluindo pequenos "caixeiros" como dantes se chamavam aos empregados de comércio.Foram sózinhos, ou em grupo. A "salto", e isto quer dizer, sem passaporte e com riscos de prisão, reais e palpáveis.Floresciam então os "engajadores" e os "passadores" que se reciclaram depois no contrabando raiano ou viraram taxistas refastelados.Por cá, em Portugal, cada notícia de abalo em grupo dava inquérito da Pide, com indagação directa e imediata junto do presidente da Junta de freguesia, para saber como foi possível e quem ajudou.Isto era real e foi presenciado por mim.Assim, os portugueses que abalavam estavm habituados por cá a uma vida de muito poucos privilégios.Trabalhavam num horário das 8 às 18, com uma hora e meia para almoço; trabalho ao Sábado ( a semana inglesa só surgiu nos anos setenta). Regalias sociais mínimas, se tanto. Assistência social reduzida e sem SMN ou vislumbre de apoio social digno desse nome.Havia Casas do Povo, que se foram construindo, com médico e enfermagem para atender os casos da aldeia. Funcionava bem. Os médicos ainda eram Joões Semana e as pessoas adoeciam menos e morriam mais.O salário era de miséria porque o PIB começava só então a crescer nas casas dos 5, 6%, mas a distribuição começava primeiro pela meia dúzia de famílias que agora mandam outra vez.O Sousa Tavares era da oposição e o filho, agora, é da família dos Salgados, Ricardos e Manuéis por ligações de casamentos e que então eram os tenentes das tais famílias.Os emigrantes, na Paris dos anos sessenta, não iam experimentar condições de vida concretas, mais duras do que já aqui experimentavam no dia a dia.
As casas deles, por cá, eram tugúrios sem aquecimento que não o das lareiras a lenha; não tinham luz eléctrica numa boa parte dos casos e se tinham poupavam na conta; água corrente era uma miragem, pois vinha dos poços particulares e das fontes públicas. Os motores Rabor e Efacec qie tiravam a água dos poços, só se massificaram na produção anos mais tarde e foi por isso que um Narciso Miranda que experimentou bem este modo de viver e sabe muito bem como é, foi para a fábrica da Via Norte, trabalhar como operário qualificado.A comida também era pobre de variedades, mas rica em proteínas e sabores. Aí, provavelmente, os emigrantes perderam umas coisas e ganharam outras. Em vez do caldo de couves pela manhã, acompanhado a tijela de vinho, começaram a ganhar outros hábitos mais refinados, como o gosto pelo brie e pela baguette.O que encontraram em França, não foram residências HLM, pois era isso que eles iam para lá construir.Não encontraram quase nada e tiveram que se desenrascar em bidonvilles e em apartamentos baratos de de subúrbio, aos montes, como agora acontece com os imigrantes de leste, numa escala mais suave.Assim, o que tinham de útil e podiam dar e vender, era a força de trabalho. E nisso, foram melhores do que muitos. Tinham vontade, pois por cá também trabalhavam e por isso não viram novidade alguma, a não ser nos melhores salários e nas melhores condições de vida nos locais de trabalho.E tinham algo que era comum a todos: vinham de uma mesma civilização que ia à missa ao Domingo e obedecia a valores comuns pregados em comunidade.Franceses e portugueses, nisso, entendiam-se e só os separava a pobreza de uns em contraste com a afluência dos outros.Mas isso não é novidade, pois há disso em todo o lado e por cá também havia- como continua a haver.Assim, o paralelo a fazer entre a emigração portuguesa dos anos sessenta e os problemas actuais, têm um enquadramento e permitem perceber todo um mundo de diferença e também porque é que os portugueses se integraram e prosperaram e estes desgraçados árabes vegetam no isolamento social.Não há milagres na sociedade e tudo tem explicação.
Só para terminar :
1- Sabiam que a mesma lei que proíbe a utilização do véu proíbe também a exposição pública de cruzes de cristo, estrelas de david, e qualquer outro símbolo de conotação religiosa nos locais considerados públicos (refiro às escolas, repartições de finanças etc. e tal).
2- Sabiam que as mesmas famílias inteiras que expulsam dos prédios de Paris são os chamados "squatters" que ocupam indevidamente prédios insalubres e em condições de ruína, que fazem as ligações eléctricas aos prédios vizinhos e que depois quando ardem, vêm todos gritar "Aqui d'El Rei" que o Estado não fez nada para lhes garantir a segurança, e por isso morrem ás dezenas nesses mesmos prédios que Vs.Exas. acusam agora o Estado de os querer despejar?
3- Sabiam que o Estado francês subsidia em boa parte a construção de mesquitas em vários locais em França, com o objectivo de ajudar à integração dos muçulmanos na sociedade?
4- Sabiam que esse mesmo Estado francês não dá um tostão para as instituições católicas para a construção, manutenção ou recuperação de igrejas que tenham sido construídas após a separação Estado/Igreja-Religião, uma vez que estas igrejas já não pertencem ao Estado?
5- Sabiam que dos cerca de 1300 jovens detidos desde o ínicio dos motins 1 em cada 2 são jovens com menos de 16 anos? Onde é que eles querem arranjar trabalho, na direcção do BNP ou da Société Generale?
6- Sabiam que os pais destes jovens, na sua esmagadora maioria, trabalha e muitos deles têm negócios próprios? Então porque é que eles não se integram sequer na própria sociedade muçulmana?
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